O que é que a escola tem? Tem um ambiente favorável para aprendizagem? Tem?

Em alusão as festividades do carnaval, me peguei com essa frase: “O que é que a baiana tem?” originalmente cantada nos antigos carnavais por Carmem Miranda. Mas, norteei pensando sobre a escola como espaço de exercício de cidadania de garantia de direitos e de deveres a serem vivenciados, assim também como ambiente favorável de aprendizagem. Um ambiente que se diga cuidadoso em seus fatores estruturais e pedagógicos.

Em projetos de governo, vemos inúmeras propagandas sobre infraestrutura, formação e financiamentos públicos à educação. Mas, será se essa garantia de direitos de uma educação de qualidade está chegando a todos? É preciso que gestores percebam se realmente as políticas chegam a todos ou se no meio do percurso uns são favorecidos e outros não. Lembremos que quando equipes de governo adentram a gestão, tem o papel de liderar a toda uma população daqueles que confiaram ou não em suas atuações.

Nas escutas e andanças nos espaços escolares, vou sentindo um pouco do que tantas professoras (coloco no feminino, para demarcar que boa parte que atuam na educação básica são mulheres) vivem cotidianamente nos atravessamentos de ser profissional da educação em um país que precisa valorizar muito mais seus educadores. Em diversos ambientes escolares nos deparamos com faltas: de estrutura, de materiais, de motivação, de melhores condições de trabalho e de aprendizagem.

Vamos pensar em elementos básicos para que as professoras consigam ministrar minimamente uma aula: a sala de aula tem ventilação que possibilite conforto de todos? Tem cadeiras apropriadas para cada turma? Tem espaço favorável para a diversidade de atividades educacionais? Tem quantidade de alunos para que uma professora bem consiga dar atenção? Tem apoio nos processos de alfabetização? Tem material necessário para realizar o trabalho pedagógico? Tem apoio pedagógico? Tem tempo de qualidade para planejar as aulas?

Aqui listei somente alguns elementos básicos que possibilite o desenvolvimento de práticas docentes que permitam que a professora esteja minimamente confortável em sua atuação. A valorização acontece também por condições de trabalho que sejam favoráveis a cada realidade. Em nossa realidade do semiárido, por exemplo, vivenciamos intensidade de calor em boa parte do ano. Como a professora conseguirá ter a atenção de todos os alunos em uma sala de aula quente e insalubre para o seu trabalho? Como os estudantes conseguirão se concentrar com imenso desconforto físico diante dessa sensação térmica?

É preciso mesmo realizarmos com atenção a escuta das necessidades de cada realidade escolar. E quem sabe até mesmo a criação de comissões de acompanhamento in loco para verificação do ambiente escolar, pensando como ambiente de conforto a todos os atores que lá estiverem. O cuidado em educação perpassa os detalhes mais sutis de integrar os espaços escolares como lugar de aprendizagem, de exercício de cidadania, de motivação para aprender e ensinar, de equipes integradas e condições de trabalho adequadas.

Festejaremos ainda mais os espaços escolares quando realmente os ambientes forem favoráveis aos processos de aprendizagem tão sonhados por todos, que todas as crianças consigam ler e escrever ainda nas séries iniciais, que os jovens e adultos tenham formação humana, científica e profissional para galgar melhores condições de vida e que nossas professoras sejam valorizadas de maneira integral que lhes favoreçam o brilho nos olhos em estar no contexto escolar cumprindo seu papel de ensinar e de aprender com a realidade.

*Clara Sousa - Fundadora da Educuidar. Psicóloga e Pedagoga. Mestra em Educação. Doutoranda em Psicologia.